A chegada do experiente lateral coincide com a evolução corintiana sob as mãos de Vagner Mancini. Vamos buscar entender algumas funções táticas desempenhadas por Fábio Santos que ajudam a explicar sua importância para o Timão.
Imagine-se na posição de um diretor de futebol. Você contrataria um jogador de trinta e cinco anos, muito pouco aproveitado nos últimos meses, para exercer uma função em que seu time já tem dois atletas lutando pela titularidade?
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O parágrafo anterior, que tem o “Não” como resposta natural, ajuda a explicar a desconfiança e desaprovação com que a chegada de Fábio Santos foi tratada por parte da Fiel Torcida. Afinal, o experiente lateral perdera espaço no sufocante Atlético Mineiro de Jorge Sampaolli. Os parágrafos seguintes, contudo, pretendem explicar por que o Timão acertou em desafiar o óbvio e responder “Sim” à pergunta que inaugura esta análise.
SUSTENTAÇÃO DEFENSIVA E NOÇÃO DE POSICIONAMENTO
28 de outubro. Era o jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil contra o América-MG de Lisca. Fábio Santos, Cazares e Otero, inscritos na competição pelo Atlético, estavam fora do jogo. Mancini iniciou o duelo com Lucas Piton pela lateral esquerda. Morna e com poucas oportunidades reais de gol para ambos os lados, a partida caminhava para o 0x0. Aos 27 minutos do segundo tempo, o comandante corintiano lançou Sidcley no lugar do jovem Piton, buscando uma alternativa mais ofensiva pelo lado esquerdo. Aos 43, no entanto, Sidcley abriu espaço imperdoável para a chegada de Neto Berola, que serviu Marcelo Toscano, decretando a derrota do Timão no confronto inicial. 1×0.

Já era uma imagem recorrente para o torcedor corintiano: um gol tomado por um espaço cedido do lado esquerdo da defesa, seja por falha técnica, física ou de posicionamento dos atletas, tanto dos laterais quanto dos zagueiros que jogavam do lado esquerdo, em especial Danilo Avelar.

O preenchimento desse espaço foi um dos principais fatores que levou à evolução defensiva do Corinthians sob as mãos de Vagner Mancini. E o principal responsável por isso é Fábio Santos, que tem a experiência e inteligência que Piton ainda desenvolverá para se posicionar melhor nas ações defensivas e o cuidado com seu próprio físico que faltou a Sidcley, oito anos mais jovem.

FÁBIO SANTOS COMO MEIO-CAMPISTA
Quando ainda atuava pela lateral direita na seleção brasileira, Daniel Alves foi comparado a Gerson por Tite em uma entrevista coletiva, em 6 de março de 2020: “Vamos falar sobre a posição dos atletas, mas também sobre a função que eles exercem. Ele (Daniel Alves) é um articulador. No Brasil, ele joga assim, mesmo na lateral.”
De forma similar, podemos enxergar Fábio Santos exercendo função de meio-campista em situações ofensivas no Corinthians de Mancini. Vamos explicar melhor: em diversos momentos ofensivos, o Corinthians troca a posição de origem dos jogadores para aglomerá-los e gerar superioridade numérica para facilitar a formação de triângulos e a abertura de espaços na defesa adversária em uma zona do campo.
Estabelecendo o lado direito como o mais criativo da equipe, em geral com Fagner na profundidade se unindo a Ramiro e Cazares nas triangulações e, por vezes, contando ainda com a figura de outro jogador de profundidade e de ataque incisivo, como Gustavo Silva, é uma região do campo em que o Timão tem sido muito produtivo.
Essa liberdade de flutuação dos meio-campistas para a direita é essencial para a formação dos triângulos. No entanto, a zona central do gramado poderia ficar descoberta, facilitando contra-ataques e dificultando a progressão do Corinthians com a bola quando não fossem encontrados os espaços apenas com os triângulos. Entra aí a figura de Fábio Santos.
Ao longo de toda a construção do gol anulado contra o Goiás, fica nítida essa função exercida pelo lateral, que, ao tomar decisões rápidas e acertadas quando recebe a bola na sustentação dos triângulos, facilita a progressão da jogada.

FÁBIO SANTOS EM SITUAÇÕES DE ATAQUE PELA ESQUERDA.
Além de contribuir defensivamente, a noção de posicionamento e de espaço de Fábio Santos também auxilia na construção ofensiva do Corinthians em momentos (mais raros) em que ela se dá pelo lado esquerdo. Em geral, Fábio pode atuar na amplitude quando Otero é o extremo, ou por dentro, quando o homem mais aberto é Piton.

A capacidade de Fábio Santos de infiltrar também permite que ele atue nos triângulos por dentro. O lateral se destacou nessa função ofensiva em sua primeira passagem pelo Corinthians, fazendo um gol marcante contra o Criciúma em 2014, na última partida do Campeonato Brasileiro daquele ano, ajudando o Timão a se classificar para a Libertadores.

O CALCANHAR DE AQUILES: VELOCIDADE NA TRANSIÇÃO DEFENSIVA
Apesar de ser um dos protagonistas da evolução do Corinthians, Fábio Santos ainda é um lateral de 35 anos que chegou ao time sem ritmo de jogo. Uma das consequências notórias dessa falta de ritmo e da idade avançada é sua dificuldade para efetivar a transição defensiva com velocidade e intensidade.
Para minimizar os prejuízos dessa lentidão, o lado esquerdo do Timão pede um extremo muito dedicado à marcação e à recomposição pelo corredor. Além de preservar Fábio fisicamente, isso facilita que o lateral preencha o espaço entre ele e o quarto zagueiro, espaço este que tanto assustou a Fiel torcida antes da chegada de Vagner Mancini e já relatado acima no texto.
Por isso é que Vagner Mancini tem optado pelas figuras de Otero e Piton como extremos pela esquerda. Ainda assim, em alguns momentos, o time ainda demonstra alguma fragilidade ao encarar transições rápidas dos adversários no setor, especialmente no segundo tempo dos jogos.

O técnico Mancini tem lidado com essa dificuldade introduzindo extremos com mais poder de recomposição. E, dessa forma, o time tem reagido bem e sofrido pouco defensivamente. O Corinthians levou apenas 1 gol nas últimas 6 partidas e não sofre mais com espaços excessivos pelo lado esquerdo em ataques construídos pelo adversário. Do ponto de vista ofensivo, também fica cada vez mais difícil imaginar um time sem um lateral com o poder de construção, capacidade técnica e a leitura de jogo de Fábio Santos. Sem dúvidas, um dos maiores responsáveis por transformar o sonho de ir à Libertadores 2021 em um objetivo real aos corintianos.
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